top of page

Maternidade e Universidade

08.04.2021

Tente ficar bem: ser mãe dentro da academia.

Kamila Eulalio Abreu

Faz alguns anos que venho escutando essa frase: “Poxa, que merda. Mas, tenta ficar bem.”

Parece até engraçado como as pessoas ainda acham que ficar bem é uma escolha do indivíduo, acham até que se você tentar bastante você vai conseguir. Mas, não é bem assim...

E eu já estou um pouco cansada de explicar. Então, escrevo aqui com a esperança de que ao ler, você e todas as pessoas que desejam isso a mim (e a outras pessoas com quaisquer transtornos) possam entender que não é uma coisa tão simples. 

Esse texto não vai sair como planejei, mas nada na vida sai exatamente como o planejado? Acho que nada não é?

Já contei aqui que fui mãe jovem e enquanto fazia faculdade. Já contei também que não foi uma jornada tão fácil, algumas coisas aconteceram, umas boas e outras nem tanto. 

O orgulho de passar para o mestrado foi uma delas, passar não é fácil, mas permanecer lá dentro é ainda mais difícil e juro que não quero desanimar aquelas irmãs que estão nessa missão, só que não posso mentir. O tempo voa, os prazos são apertados e a sensação é de estar sendo engolido por tudo o que você deve fazer é uma constante. 

Junte tudo isso a responsabilidade de criar seu (s) filho (s) e tenha uma mãe sobrecarregada. Não quero aqui falar mais do mesmo. Estamos sobrecarregadas sim, mas e o que você tem a ver com isso, né? Nada, pode falar. Ao final, somos nós por nós! E as poucas palavras de acolhimento, que são ditas com boa vontade, pouco fazem efeito nos momentos de crise.

Enquanto a cria chora, eu penso nos momentos que vivi nos últimos anos. Vamos falar com sinceridade? Há mais de contras do que prós em tentar seguir uma carreira acadêmica sendo mãe. Se fossemos fazer uma lista com toda a certeza, seriam os contras que venceriam. Ainda assim, como colocar na balança a obtenção do título de mestre versus as crises de ansiedade? 

Costumo falar que entrei para a faculdade e a depressão veio de bônus. E quando passei para o mestrado a ansiedade veio de brinde. E só aí vão 6 anos sofrendo de problemas psicológicos para seguir a carreira que escolhi. 

Fiquei muito tempo pensando em como terminar esse texto, porque não há uma forma bonita de contar os fatos, não há jeitinho brasileiro que consiga dizer que tudo continua da mesma forma. Mas, ser mãe e estar na academia acaba tendo disso. E acredito que esse é o principal motivo de nós lutarmos por essa igualdade de gênero nesse local. É esse um dos motivos pelos quais nós nos levantamos e enxugamos as lágrimas de dor e sofrimento, para que as que venham depois de nós não precisem derramar lágrimas também.

Para que elas não precisem ouvir um “tenta ficar bem” porque já estarão ótimas. Essa é a importância de políticas de permanência aliadas à luta pelo reconhecimento de nossas pautas. Pois, acredito que só assim podemos mudar esse cenário de desigualdades.

bottom of page