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Matrêscencia Literária

02.08.2021

Um teto todo seu.

Ana Marcante

Primeiro e antes de tudo precisamos dizer que escrever uma indicação literária sobre um livro escrito por uma das maiores críticas feministas do seu tempo e também do nosso tempo, é tarefa bastante difícil. Renderia muitas páginas e nós não temos todo esse espaço e tempo, infelizmente. Mas curiosamente,  “Um teto todo seu” vai tratar justamente sobre isso, desse  porque de não termos tanto tempo, espaços nossos e energia para escrever.

 

E por que quando as mulheres que quebram essa barreira espacial e temporal, são tão duramente criticadas ou ainda pior, sabotadas?

Virginia nos traz nessa obra, que foi publicada em 24 de outubro de 1929, sob forma de ensaio baseado em uma série de palestras ministradas em outubro de 1928 em Newnham College e Girton College, elementos de uma história ficcional, com muitos elementos da própria vida da autora.

 

Para quem já conhece um pouco sobre as obras de Virginia, sabe a tendência dramática que seus livros podem vir à ter, mas este não é assim. Em um teto todo seu, o tom é sempre de questionamentos, hipóteses levantadas, reflexões que tocam lá no íntimo e que nos fazem identificar como mulheres. Tudo isso com boas doses de sarcasmo. Conhecemos aqui uma Virgínia mais ácida.

             

A premissa na qual a autora vai girar, será sempre de por que as mulheres não escrevem mais do que conseguem escrever 

Falta criatividade?

 E por que quando estas se lançavam à coragem de escrever, eram taxadas como bruxas ou loucas?

 

“Pois as mulheres permaneceram dentro de casa por milhões de anos, então a essa altura até as paredes estão impregnadas com sua força criativa.”

Quem escreve e se dedica para este ofício, vai se encontrar em vários momentos na escrita da autora. Ela aborda questionamentos de o que é necessário para que uma escritora consiga escrever:  tempo, espaço, um teto todo seu, renda, momentos ociosos para a criatividade.

Virginia também  dedica parte do livro a pensar e discutir sobre a hipótese de que se Shakespeare tivesse tido uma irmã, com os mesmos talentos que os seus, será que esta teria tido acesso aos mesmos livros, as mesmas aulas e o mesmo sucesso que o dramaturgo mais conhecido do mundo? 

             

Virginia Woolf sempre nos surpreende pelo fato de ter escrito e pensando sobre essas questões no seu próprio tempo sendo pioneira em suas obras feministas.

Trazendo para a nossa realidade de mulheres sul-americanas em um país colonizado, sabemos que tais discussões, apesar de já terem avançado muito em nosso tempo, ainda precisam avançar, tendo em vista as poucas referências dominantes de mulheres que escrevem. No Brasil de Carlos Drummond, Mário Quintana, Monteiro Lobato, José de Alencar. E não é pela não existência destas.

Seguimos mudando e adquirindo nosso próprio espaço,estamos mudando e revolucionando, o que inclusive já vai acontecer em nossa próxima resenha, que será sobre uma escritora brasileira muito querida por todos nós. A

 

Alguma sugestão?

Referência

WOOLF, Virginia. Um teto todo seu. Traduçao Bia Nunes de Souza e Glauco Mattoso. São Paulo. Editora Tordesilhas, 1° edição, 2014

Colunista
Canelas - Brasil

Ana Marcante

Ana Marcante é Mãe, graduanda em licenciatura de Geografia e pesquisadora de politica e gênero.

Atua como Monitora educacional Educadora perinatal e Doula.

Ana acredita que a leitura é transformadora e que funciona como um super poder, fazendo com que pessoas se tornem melhores conforme vão compreendendo sua própria existência.

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