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Maternidade em Questão

26.03.2021

Capitalismo selvagem.... devorando as maternidades...

Mádhava Hari

Em meu primeiro texto para a coluna caracterizei a maternidade sob a perspectiva patriarcal. No segundo texto, inspirada por Simone Diniz, expus o conceito dela sobre hierarquias maternas e como o patriarcado deslegitima algumas maternidades a partir da construção social da existência de uma família padrão. Percebemos como é importante legitimar todas as maternidades, considerando que a sociedade é diversa e plural. Esse processo de legitimação ameniza a opressão vivenciada pelas maternidades tidas como fora do padrão socialmente aceito.


Nos últimos dias, alguns acontecimentos me fizeram refletir e escrever sobre a maternidade e o sistema capitalista. O capitalismo se fundamenta através do acúmulo de capital para poucos e miséria para a maioria.  Para acumular é necessário reproduzir um sistema de exploração em larga escala, com alta margem de lucro, não divisão igualitária desses lucros, mão de obra barata.


Os índices revelam que mulheres chefes de família estão em maior vulnerabilidade socioeconômico, tendo em vista que elas não escolhem esta condição, muitas vezes é imposta. 


“Segundo o Ipea, 43% das mulheres que são chefes de domicílio hoje no Brasil vivem em casal – sendo que 30% têm filhos e 13% não. Já o restante das 34,4 milhões das responsáveis pelo lar se dividem entre mulheres solteiras com filhos (32%), mulheres que vivem sozinhas (18%) e mulheres que dividem a casa com amigos ou parentes (7%).” (IPEA, 2020) 
 

Além de ainda persistir o fato de que a mulher em detrimento do homem apresenta diferenças salariais, há um aumento de trabalho, tendo em vista que acumulam o trabalho doméstico.

 

Outro aspecto relevante a considerar é o trabalho da mulher mãe, dona de casa, muitas mulheres vivem nessa condição para que o companheiro possa trabalhar. No entanto elas não são remuneradas, seu trabalho sequer são reconhecidos, além de não terem nenhum direito trabalhista resguardado. Quando o pacto familiar se desfaz estas mulheres estarão ainda mais vulneráveis. O mundo se move sob o trabalho não remunerado das mulheres e sobre sua mão de obra barateada. 


Que tal creche para TODAS crianças, assim as mães teriam a possibilidade de trabalhar de forma remunerada?! O capitalismo necessita do patriarcado, são os homens os mais beneficiados pelo sistema capitalista. Como é difícil assegurar todos direitos trabalhistas as mulheres, as mulheres mães, como por exemplo licença maternidade, licença para cuidar da criança, a instabilidade que uma mulher mãe tem no mercado de trabalho, o quanto ela é mal vista quando se ausenta para cuidar de sua criança adoecida. Só evidencia o quanto o mundo do trabalho remunerado é feito para beneficiar homens.


A licença paternidade ser menor já é determinante para evidenciar que cuidará das crianças. A ausência da divisão começa cedo e é legitimada através da legislação que desfavorece a igualdade. Se o capitalismo por sua constituição desumaniza as pessoas por às entenderem apenas como peça na engrenagem do acúmulo de capital, esse processo de desumanização se acentua quando fazemos a intersecção com gênero e raça e mais ainda com mulheres mães negras.


Para mulheres mães se negar a trabalhar de forma não remunerada pode ser um ato político contra o sistema capitalista, patriarcal. Trabalhar sem desumanizar-se uma meta! Contribuir socialmente por ideais, rejeitando a invisibilidade, um sonho! Sigamos...

 

REFERÊNCIAS:


https://www.em.com.br/app/noticia/economia/2020/02/16/internas_economia,1122167/quase-metade-dos-lares-brasileiros-sao-sustentados-por-mulheres.shtml
 

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