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Maternidade em Questão

26.01.2021

Maternidade e Patriarcado

Mádhava Hari

É com grande alegria que iniciamos as atividades na coluna do NIEM! E de abertura vamos falar sobre maternidade enquanto construção social, considerando o patriarcado teoria que subsidia suas práticas. Afinal, nossa sociedade é formada sob essas bases, bem como toda organização social que está posta e que fundamenta as dinâmicas  do exercício materno. 
 

O patriarcado se fundamenta na construção de performance para papéis femininos e masculinos e nesta dinâmica as mulheres devem se dedicar aos cuidados com a prole e ao âmbito doméstico, enquanto os homens são os provedores e se dedicam à conquista dos espaços públicos e consequentemente de PODER.  Estando nos espaços de poder, os homens constroem sob suas visões limitadas a dinâmica da ordem social e as demandas das mulheres ficam sempre em segundo plano, haja vista que para terem suas demandas atendidas precisam travar um grande debate e irem conquistando espaços paulatinamente.
 

Há também entranhada na cultura de nossa sociedade uma performance social da maternidade. Ao analisarmos como a sociedade espera que uma mãe se porte, percebemos o quão desigual são as exigências e demandas relacionadas à maternidade em relação à paternidade. Amor incondicional, presença constante e exclusiva, que a vida da mulher esteja voltada em função da criação des filhes,  anulação de sua própria vida, dentre tantas outras demandas que não são igualmente exigidas dos pais. O peso da sociedade para as mães não tem limites. É controle, a potência da mulher está sob controle diante da maternidade, pois geralmente é uma condição solitária e de muita demanda. A mulher segue sendo podada de suas potencialidades.
 

Mas e quem insiste em remar contra a maré das demandas maternas e conciliar a maternidade com os diversos aspectos da vida da mulher? A sociedade foi mudando e as mulheres há algumas décadas vem ocupando espaços de trabalho, cargos públicos e tem atuado na sociedade de diversas formas. Mas o cuidado com a prole ainda é um  “lugar” em que as mulheres ficam muito só. Culturalmente esta é uma atividade feminina, às vezes até trazendo a argumentação do “instinto materno”. E é daí que o acúmulo de atividades e uma divisão desigual delas a partir do gênero causa uma SOBRECARGA nas mulheres mães. Entretanto, a sobrecarga física é algo mais palpável, visível e de fácil identificação. O que poucos consideram é a carga mental das mulheres na condição de mães, sejam por que fazem parte do grupo de mães solo, seja por que as crianças também optam por terem seus desejos atendidos por suas mães ao invés dos pais, considerando que são sempre elas as mais envolvidas com esta atividade e por isso também, são as que mais desenvolvem as habilidade do cuidado. Vale evidenciar que as mulheres desde a infância são educadas socialmente para desenvolverem habilidades características do cuidado com o outro, principalmente com filhes.
 

Ao passo que o patriarcado reserva um lugar hostil à vida pública das mulheres, a vida no mercado de trabalho, estudo e etc, também retira dos homens a possibilidade de exercer a paternidade de maneira efetiva  e humana.  A conquista do mundo ficou para os homens, mas chegou o momento em que as mulheres estão reivindicando humanização, ações fundamentadas na equidade para estabelecer relações mais justas em nossa sociedade. A sobrecarga desumaniza as mulheres. A falta do direito de escolha desumaniza igualmente as mulheres. Infelizmente no ambiente doméstico a revolução ainda é muito inicial, haja vistas as estatísticas brasileiras que demonstram um total de 11 milhões de mães solo, como demonstra o grupo LOCOMOTIVA¹ através de uma pesquisa recente.
 

É importante que toda a sociedade se responsabilize pelas crianças e não apenas sigam responsabilizando as mães.  A responsabilização da sociedade pode ser concretizada através de políticas públicas de apoio a crianças, o que consequentemente chegará também às mães... mas esta discussão vamos deixar para um próximo texto, pois merece um debate mais profundo. Como ação que todes nós podemos fazer no nosso cotidiano, sempre que puder, APOIE UMA MÃE! É um ato político, é um ato humano, é uma ação de equidade.


¹ Locomotiva Instituto de Pesquisa, acesso em https://www.ilocomotiva.com.br.

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