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Feminicidade, maternacidade

12.03.2021

Calma, mãe!

Camilla Cidade

As mães alunas e os corredores institucionais. As mulheres mães, a pandemia e seus abismos pessoais. Como continuar e ser diferente, se nos diversos momentos, a sobrecarga da mulher mãe aparece no centro da nossa discussão? Somos o umbigo do mundo. Geramos um mundo por trás de nossos umbigos.

 

O texto de hoje não vai seguir o planejado. Mães, apagam incêndios, abaixam febres, preparam o alimento, limpam o ambiente, planejam os dias, as compras, o tempo inteiro. Sem férias, sem descanso, sem sossego nem na hora do banheiro. Poucas padecem no paraíso que deve ser, viver diferente disso, e ainda assim maternar.

 

Hoje vamos falar do não planejado, do que acontece com forças externas e independentes de nossa vontade. Questões compulsórias. Com o passar do tempo você, mãe, entende que o controle do tempo e otimização é inato das mães. Ou não, nem todas são iguais. A única certeza é que somos imensamente diferentes e que não controlamos o mundo. Com a pandemia, cada vez mais descobrimos, que nem os nossos mundos pessoais. Tá sabendo!?

 

Já se deu conta que se o feijão queimar, a panela acabar, o horário da aula passar, a conta atrasar por falta de dinheiro ou por esquecimento, você está apenas tendo um acidente de percurso!?

Acidentes de percurso inclusive são previstos em lei, quando se está exercendo uma atividade remunerada.

Então atenção: Não. Nossos mundos, o meu e nem o seu vão acabar com a panela, e nem com o final do prazo de entrega do TCC. nem com seu chefe furioso, e nem com uma demissão.

 

Calma, mãe!

 

Se você é mãe, docente e está em produção Home Office, você faz parte dos apenas 4,1 % de mulheres que estão conseguindo produzir na pandemia, segundo dados recentes do Parent In Science. Considerando o recorte de raça e parentalidade, apenas 3,4% de docentes negras estão conseguindo produzir e 4,4% de mulheres brancas. E se você for mãe estudante de nível escolar, ou de graduação, não tem número para ser relatado aqui hoje.

 

Dados da UFMS comprovam que a sobrecarga materna gerou ANSIEDADE em 26,76% das mães entrevistadas. Esta mesma pesquisa, revela que 83,82% sentiram aumento da sobrecarga no cuidar dos filhos durante a pandemia. Revela ainda que 25,18% das mães apresentaram sintomas depressivos e 22,63% das mães apresentaram sintomas de estresse, sendo que 39,05% das mães apresentaram sintomas de estresse pós-traumáticos.

Então, calma. Vamos lá..

 

“ O transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) ou perturbação de estresse pós-traumático (PSPT) é distúrbio da ansiedade caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas físicos, psíquicos e emocionais. Esse quadro ocorre devido à pessoa ter sido vítima ou testemunha de atos violentos ou de situações traumáticas que representaram ameaça à sua vida ou à vida de terceiros. Quando ele se recorda do fato, revive o episódio como se estivesse ocorrendo naquele momento e com a mesma sensação de dor e sofrimento vivido na primeira vez. Essa recordação, conhecida como revivescência, desencadeia alterações neurofisiológicas e mentais.”

 

Ansiedade: “ A ansiedade é uma resposta normal do corpo a situações estressantes, no entanto, quando é muito frequente pode indicar um transtorno de ansiedade.Existem vários tipos de transtorno de ansiedade, mas geralmente causam preocupação constante, dificuldade para relaxar e pensamentos difíceis de controlar. “


 

Stress: “O estresse (ou stress, em inglês) é um sintoma que muda nosso estado de forma indescritível. Ele pode ser caracterizado por sensações de irritação, medo, desconforto, preocupação, frustração, indignação, nervoso.

 

 

Mães solo, que são solo desde os primeiros dias de vida de seus filhos, revivem este difícil momento de isolamento, pois nós, já passamos por “ quarentenas e lockdowns” antes. Mães solo, que tiveram seus companheiros e de repente romperam e ficaram sozinhas, também revivem este momento difícil quando se veem mais uma vez sozinhas com suas crias.

 

Para acentuar tudo isso, há a configuração política do país, que não tem como ser ignorada. Como nos mantermos positivas e em equilíbrio? Estamos em um navio literalmente desgovernado. É difícil ver luz no final deste túnel.

 

Mas o que nos resta, de alma, de racionalidade, e de imediato?

Respira, um dia de cada vez e calma mulher. Lembrem-se de quem somos.

 

São marés, são luas, bimestres, semestres, vendavais. Em momentos confiantes, geramos milagres, às vezes até sem acreditar, ou sem querer, de repente se cria vida!

 

Por isso as vezes é preciso sair do planejado, é preciso dormir enquanto o bebe mama, é preciso respirar, é preciso lanchar em vez de jantar, sem crise. E se não houver qualquer detalhe da infinitude de coisas que uma mãe, uma casa, e criança precisa? Se não houver.? Bom… se não houver, não houve. E segue.

 

Por favor não me deixem morrer, mas principalmente não morram a cada ciclo de tempestades, sangramentos, crises e de descobertas de inúmeros distúrbios físicos e psicológicos que as dores da sociedade desenvolvem em nós com o tempo. E não é só em nós mães, falo de nós, mulheres.

 

Ninguém vai morrer, ou vai morrer todo mundo. Depende do temporal, depende do ponto de vista.

 

Prazos são maravilhosas ferramentas de organização. Meus bebês tiveram fraldas pesadas que, se não davam assaduras, eu deixava elas lá até que eles apareciam pelados. E assim aprenderam autonomia. E eu não me sinto má, nem culpada. ( Apesar de todos me narrarem o absurdo que aquilo era. Julgamentos. Eu segui minha intuição, se não há assadura, mal não faz, poupa meu tempo, poupa dinheiro, e no final ainda fui surpreendida com a rápida autonomia que criaram, tirando eles mesmos as suas fraldas, deixaram de fazer cocô em fraldas, ambos. E pra mim isso é intuição de mãe x Darvin, teoria da evolução. Confiem. Rs…)

 

Estou tendo esta experiência incrível, de ter convidado e estar conduzindo as escritas de um grupo de mulheres que na minha opinião são ( me desculpem o termo ) Fodarásticas. E todas temos prazos e sobrecargas, está sendo incrível, vivenciarmos juntas e em rede, nos acompanhando temporalmente. As #colunasniem foram pensadas interseccionalmente, com mulheres de todas as etnias, com mulheres das diferentes regiões do país, com diferentes níveis de graduação e diferentes realidades sociais. Estas são mulheres incríveis com toda certeza, e estamos todas passando por uma barra. São barras, diferentes! Mas são barras. Que fase!

 

Por isso, dessa vez, nesta edição, não tenho como falar sobre organização dos coletivos, nem sobre a institucionalização dos direitos das mães universitárias,nem sobre criação e necessidade de políticas afirmativas. Hoje nós temos o imediato. Se houvesse mais tempo, dissertaria sobre a solidão da mulher mãe na pandemia, pois é um pilar para todos esses dados que vem sendo demostrados através das pesquisas. Mas não há tempo agora, senão meu feijão vai queimar, e se eu não aprender a organizar, e fazer concessões, não rola, não podemos pirar... ( ou podemos às vezes).

 

O imediato, priorize as prioridades, um dia de cada vez.

 

E o imediato é; se permitam se desesperar, pois passa. Lockdown total para quem puder. Não é fácil para ninguém, mas não vamos ignorar as irmãs que estão em maior vulnerabilidade. Sororidade se vê agora. Você consegue mandar uma cesta básica para alguma mãe que você sabe que precisa? Você está precisando de que? Mente firme, corpo sadio, coração conectado em uma só energia: ISSO VAI PASSAR. Mais força! Mais luta!

 

Obrigada pela leitura. Minha e também das minhas irmãs, conectadas em #colunasniem

 

Camilla Cidade

12/03/2021

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