top of page

Feminicidade, maternacidade

12.05.2021

Pirâmide Social, e a importância da ciência e
comunicação no estabelecimento de direitos

Camilla Cidade

2021. Momento importante para o estabelecimento de direitos das mulheres dentro da academia. As políticas afirmativas, iniciando a reconhecer “mulheres-mães” e suas específicas condições como grupo que necessita de ações reparatórias. Surgem como nascimentos, iniciativas que reconhecem as mulheres mães dentro da academia. Partindo do alto da pirâmide social, docentes, iniciam um movimento em busca da equidade e combate do efeito tesoura na academia, e com isso, através da criação de Seminários para se pensar a maternidade na academia, há reverberação das pautas entre as docentes, e assim, surgem, ou ganham visibilidade os coletivos de mães universitárias, e também ebulem organizações, grupos de trabalho GTs sobre gênero nas universidades. A troca e comunicação entre estes movimentos, tem conseguido efetivar iniciativas em diferentes partes do Brasil. 

 

Esta semana o CNPQ anunciou a inclusão do campo licença-maternidade no Currículo Lattes. A iniciativa atendeu a demandas da comunidade científica, sobretudo do Movimento Parent in Science, e o campo é opcional:  “expormos nossas maternidades e através de políticas de apoio justas, começarmos a ocupar os espaços de decisão. E assim garantirmos uma mudança no meio acadêmico, para que nenhum discente precise ter mais medo!” São as palavras da Fernanda Staniscuaski, coordenadora do Parent in Science. 

 

Sem dúvida, qualquer ganho em políticas para professoras e pesquisadoras,  é ganho para as alunas, mesmo que não as atinja diretamente as resoluções e processos seletivos.

 

A primeira vez que eu encontro mulheres mães sendo reconhecidas em edital, foi em um processo do PIBIC da UFF, em 2018; O edital contou com pontuação extra para pesquisadoras mães com filhos pequenos, reconhecendo o direito de uma licença maternidade ( período de não produção em seus lattes) e a necessidade de ação para busca de equidade na academia como também e sobretudo o respeito aos direitos reprodutivos da mulher. 

 

As  meninas, mulheres-mães graduandas vem com enorme taxa de evasão e nenhuma política de acolhimento durante muitos anos, sobrevivendo ao espaço acadêmico, explicitando a dinâmica excludente das bases da sociedade. Até nas universidades públicas, quem são as mães que tem acesso ao estudo e conseguem ter meios de formação?

 

Na UFF, até 2018 as estudantes-mães- solo, não tinham o direito de se alimentar no bandejão ao não terem com quem deixar seus filhos. Através do Coletivo de Mães da UFF, chamamos os orgãos responsáveis da universidade, e conquistou o direito da entrada das mães, pós negociação com assistentes sociais, nutricionistas, e pró-reitoria de assistência estudantil, ficou acordado um cadastro,sendo este um termo de responsabilidade em não alimentar a criança com a comida do bandejão pois é inadequada para crianças pelo alto teor de sódio. O grande impasse da entrada de mães no bandejão, foi resolvido. 

 

Entendendo que o grande problema da exclusão se dava para  mães, solo, em dificuldade que residiam e sobreviviam ao entorno da universidade, elas não estavam interessadas em alimentar seus filhos, que estavam sendo atendidos pelas UMEIS  e saiam alimentados das creches municipais, mas o horário de pegar suas crianças, impedia a janta dessas mães.  Essa temática foi um dos exemplos de como a luta é interseccional e como se dá a importância da pauta na discussão acadêmica.

 

A divulgação das pautas maternas dentro do espaço universitário, pelas professoras, abre precedentes para que as demandas básicas e estruturais sobre as alunas mães, entrem em discussão! Dentro da UFF e no Brasil, os coletivos se organizavam e iniciavam a formalizar suas pautas, através de metodologia compartilhada. Partindo do estabelecimento dos grupos, fomentando através do NIEM, a colheita de dados das mães e suas demandas, para através disso, estabelecer as principais buscas do grupo e assim iniciar a formalização de pedidos junto aos responsáveis. E assim vimos nascer, núcleos, gts e coletivos. 

 

Impactadas pela necessidade de comunicação e divulgação da pauta, após o I Simpósio do Parent in Science,  em 2019 o NIEM, através do Coletivo Mães da UFF, realiza o I Colóquio Universidade e Maternidade e no mesmo ano, através do NIEM e do recém parido Coletivo Mães da UFRJ, o I Seminário Sobre Maternidade e Universidade, na UFRJ. 

 

Ambos eventos são realizadas as segundas edições em 2020 apesar da pandemia, em modo remoto, dando continuidade ao ciclo de discussões  e avanços dentro das próprias universidades envolvidas. Houve suporte teórico das para explicação das pesquisas de gênero, pelas professoras do GT de Mulheres na Ciência da UFF. Manifestando e convidando todos os professores e convidando todas as coordenadorias de curso, a apreciação do conteúdo dos Colóquios e Seminários.

 

Em agosto de 2020, durante a pandemia, o Conselho de Ensino, Pesquisa e extensão ( CEPEX) da UFF, reconhece a sobrecarga materna e aprova a flexibilização da carga horária das discentes mães, que fossem cuidadoras. 

Também dentro da UFF, em agosto de  2020, eu encontro a primeira aplicação de porcentagem afirmativa para mães em processo seletivo de estágio, realizada pelo Propet- Bio Fronteiras / Prograd - UFF

Em setembro, foi a vez da proppi-UFF, ao anunciar a Chamada para bolsa de pesquisa Fopesc, havendo a inclusão de pontuação extra para mães e para doutores até 5 anos, sendo esta bonificação não acumulável. 


 

Em 2021, temos  vitória na Usp com a oferta de 100 bolsas, um número representativo, para mães de pós-graduação no “ O Programa Especial PAE – Mães Pesquisadoras”  para que permaneçam desenvolvendo com qualidade suas atividades de pesquisa que foram prejudicadas pela pandemia.

 

2021, há  a proposta de criação de um fórum estadual que reúne os GTS da UFF, UERJ, UFRRJ, UFRJ), assim como na esfera dos coletivos de mães, se encontraram para trocas, essas professoras se unirem para iniciar a construção de um fórum estadual sobre equidade de gênero, parentalidade e diversidade na academia, é um ganho tremendo.

 

2021, temos programado para realização Colóquio e Seminário

 

2021, temos o programa Amanhã, do Parent in Science para mestrandas e doutorandas. 

 

Estes avanços, tem representatividade muito importante na luta por igualdade de gênero e pela luta materna em si. Os direitos ainda estão a caminho, e precisam ser efetivados. Somos agentes de nossas formações e ocupações. Toda força, companheiras! 

Que as lutas de equidade nos espaços continuem se desenvolvendo. Que mais grupos se solidifiquem. Que mais mães se formem. Que ninguém largue as mãos de ninguém. E que a gente se fortaleça.  

 

Quer contribuir com esse texto?

Por favor envie um email com o edital/ ação de sua universidade onde houve ações afirmativas para “mulheres-mães” em suas academias! nucleoniem@gmail.com 

 

Precisamos visibilizar! Sempre! Dias mulheres virão!

 

E este é o espaço das Colunas NIEM, estou eu entre 9 colunistas, diversas, de diferentes estados e níveis de escolaridade, abordando os diferentes aspectos das vivências da maternidade, em plena pandemia. Um desafio. Parabéns companheiras! 

bottom of page