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Lente Feminista

16.03.2021

GÊNERO E EDUCAÇÃO: A EDUCAÇÃO DE MENINOS POR UMA PERSPECTIVA FEMINISTA

Ivana Moura

Vivemos em um mundo masculino,  onde todo o movimento social, cultural, institucional, educacional e econômico é feito e pensado pela ótica do homem. A educação de nossas crianças não foge a essa regra.

O conceito de educação engloba toda e qualquer concepção dos diversos processos de ensino e aprendizagem. O que aprendemos no colégio com as matérias escolares é processo de ensino e de aprendizagem. O que aprendemos em nosso meio, com a família nuclear, com o nosso entorno, em nossa comunidade local, também é um processo de ensino e de aprendizagem. Tudo é aprendido e tudo é ensinado.

Em 22 de fevereiro deste ano, durante o sufocante período do isolamento social, uma notícia chocante tomou as timelines das redes sociais. Não foi uma notícia excepcional, sobre algo que dificilmente acontece, pelo contrário, foi algo que aqui no Brasil se tornou uma epidemia. Era uma notícia sobre um crime de feminicídio. Esse caso, em especial, me deixou reflexiva não só sobre a relação do homem com estado de poder que o patriarcado lhe confere, mas também com os processos de ensino e aprendizagem compulsoriamente machista  ao qual as crianças são submetidas desde tenra idade, e quais seriam os resultados efetivos disso.

Em resumo, o caso que me chamou atenção foi o feminicídio de Ingrid Bueno,  uma Gamer profissional do FBI E-Sport, mais conhecida como Sol e que tinha apenas 19 anos. Sol foi esfaqueada por um estudante de 18 anos, também gamer profissional que planejou, executou e compartilhou as imagens da jovem assassinada no grupo da Gamers Elite, equipe com a qual o feminicida tinha acordo de trabalho.  Ao se entregar à polícia, sem nenhum remorso aparente, o jovem confessou o crime e apresentou os seus motivos para o ato, ele declarou que odiava as mulheres.

Nosso processo de aprendizagem se inicia a partir do momento em que nascemos e nós aprendemos, basicamente, durante toda a nossa vida. Em algum momento da vida, ou em todos, meninos são ensinados a odiar e desprezar mulheres. O jovem que matou Sol aprendeu, em suas diversas fases de desenvolvimento, a odiar mulheres. Aqui entro com  a objetivo desse artigo, que é trazer uma reflexão sobre a educação de meninos por uma visão pedagógica feminista.

O desenvolvimento do ser humano passa por alguns aspectos que são indissociáveis, como nos apresenta o estudo do desenvolvimento humano. O desempenho físico-motor, intelectual, afetivo-emocional e social são estágios do desenvolvimento humano que podem receber influências positivas e negativas durante seu processo. A exemplo de uma criança que não tem suas habilidades físico-motoras estimuladas e que terá, em relação a outras crianças, um “atraso” considerável nessa habilidade, que por ventura influenciará negativamente seu desenvolvimento.

Todas nós sabemos que devemos estimular nossos filhos a falar, a pegar a colher e levar a boca, que precisamos estimular a leitura para desenvolvimento intelectual, ensinamos a “palavrinha mágica” (obrigada) como regra social, mas quando o assunto e o desenvolvimento e a responsabilidade afetivo-emocional, será que estamos oferecendo os estímulos corretos?

 

A aprendizagem desempenha papel central no desenvolvimento humano, sendo sua principal característica os processos de mudança que acontecem como resultado da experiência. Aprendizagem, portanto, é o resultado maduro de um processo que se expressa diante de uma situação-problema, sob a forma e uma mudança de comportamento em função da experiência. Pode-se também afirmar que esse termo tem um sentido muito amplo, pois abrange os hábitos que os indivíduos formam os aspectos de sua vida afetiva e a assimilação e seus valores culturais. KATO, 2009 apud CUNHA, 2019, p.2)

 

Se você chegou até aqui deve estar se perguntando: A autora está insinuando que mães ensinam meninos a serem machistas e odiadores de mulheres? Qual o caminho que esse artigo vai apresentar de fato? Será que a autora vai atribuir a educação de meninos somente às mães, que já são mulheres sobrecarregadas e socialmente cobradas a essa função? Será que autora acredita que uma educação feminista unilateral oriunda no núcleo familiar da criança pode efetivamente “salvar” nossas crianças as armadilhas do patriarcado?

Minhas caras leitoras, todas essas e outras perguntas, cujo a qual minha mente não pode alcançar neste momento, serão respondidas no nosso próximo encontro.

Por ora deixarei vocês com uma citação de Chimamanda Ngozi em  Para educar crianças feministas: Um manifesto.

“(...)é moralmente urgente termos conversas honestas sobre outras maneiras de criar nossos filhos, na tentativa e preparar um mundo mais justo para mulheres e homens” (ADICHIE, 2017, p. 8).

 

 

REFERÊNCIAS:

ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Para educar crianças feministas: Um manifesto. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2017.

CUNHA, Márcia Valéria Luz da. Cognição e as dificuldades de aprendizagem: possíveis contribuições. Portal webartigos, 21 ago. 2019. Disponível em: https://www.webartigos.com/artigos/cognicao-e-as-dificuldades-de-aprendizagem-possiveis-contribuicoes/163280. Acesso em: 10 mar. 2021.

PAPALIA, D. E. Desenvolvimento humano. Tradução Carla Filomena Marques. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2010.

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