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Autora-Data

30.01.2021

Elizabeth Badinter... em dobro

Juliana Márcia

Não há melhor forma de dar o primeiro passo nesta coluna do que abordando a produção da filósofa francesa Elizabeth Badinter. A autora é uma das principais (se não a principal) pensadora sobre os valores sociais atribuídos a maternidade e seu livro Um amor conquistado: o mito do amor materno (1980) tornou-se referência máxima para essa discussão.
 

Neste livro a autora demonstra como o amor materno tornou-se tão valioso após os anos finais do século XVIII, tendo tornando-se ainda mais explicitamente cobrado ao longo do século XIX. Badinter aponta como diversos discursos de vários setores, especialmente das ciências, apresentaram esse discurso moralista mascarado de um destino biológico, de instintos naturais que nenhuma mulher poderia escapar. 
 

Além disso demonstra como a medicina se apropriou de conhecimentos que eram vastamente compartilhados entre as mulheres e historicamente ignorados por essa profissão. Tais conhecimentos ganharam uma linguagem técnica, difícil e as vezes inacessível e se constituiu como a ginecologia, que tratou também de repudiar o uso de parteiras e de criar uma parceria entre mães e médicos que as colocaria como eternas cuidadoras da saúde, mas apenas como auxiliares.

A discussão sobre a maternidade feita por Badinter em 1980, que já é fantástica por si só, avança em mais alguns passos  no seu livro O conflito: a mulher e a mãe (2010). Neste segundo momento a autora retoma o assunto para falar sobre a situação da mulher moderna, que ganhou o direito de assumir a direção de escritórios, mas permanece sendo pressionada a assumir sozinha o fogão. 
 

Além de questionar a figura invisível do pai no que tange o cuidado com o bebê, a autora coloca em cena como a sociedade exige que os desejos individuais da mulher sejam suprimidos em nome da mãe. Dentre outras discussões, a autora aponta a volta de discursos maternalistas nas ciências e até mesmo dentro do próprio feminismo materno da segunda onda que, em alguma medida, ao tentar valorizar a maternidade retoma discursos da mãe natural e a mãe natureza, alegando que “a maternidade é uma experiência crucial da feminilidade” (BADINTER, 2010, p.71).
 

Em minha opinião de pesquisadora afirmo que as duas obras são complementares para aquelas que estão dando seus primeiros passos na pesquisa sobre a maternidade e seus PDFs podem ser facilmente encontrados disponíveis na internet. Aqui, em nosso site NIEM, na primeira biblioteca especializada em estudos da maternidade, está disponível O Mito do amor materno.

Juliana Márcia
Colunista
Bahia - Brasil

Área de formação: Serviço social (Graduação), Mulheres, gênero e feminismos (mestrado), Serviço Social (Doutorado)

Principais pesquisas ( caso tenha): maternidade e carreira, maternidade e formação, gênero e universidade, gênero nas ciências, assistência estudantil para mães e relações raciais na Universidade

Coletivos, gts, ong ou organizações que participam: Pesquisadora do Núcleo Interseccional de Estudos Sobre a Maternidade - NIEM, do grupo de pesquisa Ciência, gênero e educação - CIGE e do Grupo de Pesquisa de Ações Afirmativas e Reconhecimento - GPAAR.

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