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Mundo da Adoção

04.02.2021

Ei mulher, você não é menos mãe por ter escolhido a adoção!

Aline Santana

Era um domingo ensolarado num dia desses de churrasco em família e Marília chegou carregando no colo sua filha de 5 anos, adotada há pouco mais de um ano.  Em um momento todas as crianças estavam brincando e suas mães conversavam sobre as dificuldades de se criar filhos quando Marília toca nas suas dificuldades e logo sua cunhada rebate: "Você não sabe de nada, você só vai saber de tudo isso quando você for mãe de verdade!"

 

Se você leu o trecho acima e ainda não entendeu o que está de errado nele, continue... Este texto pode ter sido feito para você!

 

Você faz parte (espero que depois deste texto não faça mais) de uma grande parcela da sociedade que constrói a maternidade e o maternar em cima de crenças sobre uma coisa chamada instinto materno - já solto "spoiler" de que ele não existe - e laços de sangue como determinantes para vínculos afetivos, considerando a única via de nascimento e formação de família como a via biológica.

 

Se sangue fosse garantia do exercício de uma função maternal, o que dizer dos casos de maus tratos, abusos físicos, psicológicos e sexuais executados por pessoas do mesmo sangue? Nesse atual cenário, será que ainda faz algum sentido estabelecer um vínculo entre a maternidade e o parto e continuar disseminando a crença de um amor materno como uma consequência do laço sanguíneo?

 

Sinto dizer (na verdade não sinto não) à cunhada de Marília que esse amor materno e essa validação para falar do lugar de mãe que ela procura numa mãe de verdade – na forma como foi construído – não passa de um castelo de cartas que pode ser destruído no primeiro sopro de refutação ou em qualquer exemplo a lá Suzane Von Richthofen ou em uma simples e rápida pesquisa no google. Junção de gametas não é passe livre para o amor, nem garantia de cuidado e nem de lugar de fala sobre maternidade para ninguém.

 

Ser mãe não é apenas gerar, ser mãe é uma questão de atitude! 

 

Os papéis de mãe e de pai podem ser desempenhados lindamente, por qualquer pessoa, inclusive por aqueles geneticamente ligados à criança, porém não se restringindo a elas. De certo que a habilidade para parentar se relaciona muito mais com o cuidado, afeto e presença do que com uma combinação aleatória do quarteto fantástico ( adenina, citosina, guanina, timina) da sequência de DNA.

 

Gerar ou não, não tem nada a ver com nossa capacidade de maternar, ela é aprendida e não inata.

 

Um filho só te faz mãe se efetivamente te faz amar, pode ser gerado, adotado, da fertilização, da barriga de aluguel ou da doação de óvulos. Na ausência de afeto, essa mulher pode apenas ganhar o status de procriadora, geradora, progenitora, menos mãe. Ninguém nasce mãe por ser mulher e nem pode ser considerada menos mãe ou mulher por não gerar, isso é socialmente construído. Mas temos a capacidade de aprender se esse for o nosso desejo.

 

E eu, com essas palavras, desejo criar pontes que me levem até as "Marílias" espalhadas pelo mundo, de forma que as acolha num abraço e diga: Ei mulher, você não é menos mãe por ter escolhido a adoção!

 

Aline Santana, Psicóloga, Idealizadora do espaço @mundodaadocao no Instagram

Aline Santana
Bahia - Brasil
Colunista

Sou Aline Santana, Natural de Salvador, uma Analista de Sistemas que virou Psicóloga pelo amor a causa da adoção, mãe de Miguel, uma criança linda que me ensina todo dia o poder do afeto e esposa de William.

Atuo como Psicóloga Infantil e da Adoção. Apaixonada pelo tema, estou nesse mundo como estudiosa do assunto desde 2012, participando de ações voluntárias, trabalhos terapêuticos em grupo e individual, grupos de apoio e trabalhos acadêmicos.

Sou especialista em Clínica Psicanalítica com formação em grupos terapêuticos e dinâmicas de grupo e relações interpessoais.

Acredito que todos os filhos precisam ser adotados, sejam eles biológicos ou não, por isso escolhi trabalhar com o fortalecimento dos vínculos, preparação e suporte a pais e filhos no processo da adoção consciente.

Para mim a conexão que fazemos com uma criança reflete no adulto que ela vai se tornar.

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