top of page

Edição Especial NIEM

29.10.2021

Maternidade e a revisão dos papéis sociais

EDIÇÃO ESPECIAL - NIEM

Distanciamento social (socialmente aceitável)
na maternidade

Geysianne Felipe
Mestra em 
comunicação pela UFPB
Ativista social pelos direitos das mulheres e das crianças
Articuladora na coletiva Pachamamá
mãe de Ângelo

Coletivo de Mães
Pachamamá

Muito tem se falado do desafio que é estar em distanciamento social no último ano. Para as mães, porém, o distanciamento social não é nenhuma novidade, visto que esta é uma condição  socialmente implícita ao ato de maternar em uma sociedade patriarcal e machista.

Na pandemia , toda a sociedade pôde vivenciar um pouco do que é ser mãe em tempo integral. Ter de lidar com inúmeras tarefas ao mesmo tempo; não poder estar presente em compromissos sociais mesmo querendo muito; conviver com crianças dentro de casa e ter que se concentrar para dar continuidade às demandas de casa e trabalho.; sensação de piora no estado emocional.  Para a maioria, todas essas situações se mostraram muito novas. Para as mães, essa situação só piorou o que já acontecia cotidianamente em suas vidas. Então, tendo isso como um fato, deveríamos ter mais empatia  com as mães , quando tem de  administrar mais de uma vida, em condições extremamente exaustivas.

 

Precisamos também aprender mais com as mães sobre resistência e resiliência. Não esqueçamos que em uma crise, são estas pessoas que sentem o peso maior.  Em um país tão desigual como o Brasil, passando por uma pandemia , a vida das mulheres mães e seus filhes sempre estarão na linha de frente e é nelas que podemos nos inspirar para fazer as melhores escolhas em tempos de crise e escassez. Porém enquanto sociedade devemos ter muito cuidado ao achar que é natural da mulher ser  guerreira, ter a força da resiliência. Que fique claro que essa condição de fortaleza vem através de muita dor. O modelo de mãe que foi plantado pela sociedade patriarcal  e machista utiliza o corpo da mulher mãe para sustentar o lucro. Somos nós mães que suportamos todo o peso , para que o capitalismo acumule riqueza e continue seu projeto de exaustão das humanidades e do meio ambiente.

 

É muito cômodo para toda a sociedade que as mulheres mães se abneguem, sejam doadoras do seu tempo, dos seus sonhos, de seus objetivos “por amor”, por uma idealização , o mito da perfeição (VIVAS, 2021) , que está próximo da santificação e por isso também boicotam as mulheres de experienciar a maternidade, que é um momento tão ímpar de maneira prazerosa e consciente.

 

Ao mesmo tempo e com  evolução dos debates feministas, as mulheres que já chegaram em um nível de maior empoderamento da ideia do ser mulher enquanto ser social no mundo, também tiveram filhos. E aí na maioria dos casos ao se tornarem mães, muitas ativistas percebem que “na prática a teoria é outra”, e caem em conflitos pessoais extremos e se veem em uma trama da qual elas sempre lutaram contra. Mas o problema é da maternidade em si ou da tradição de não debater este lugar?

 

maternidade precisa ser encarada como pauta prioritária nos debates de movimentos sociais e feministas, porque é sobre criação que estamos falando. Se temos algo muito democrático em qualquer sociedade é a maternidade, então por que não encarar os gargalos dessa pauta nos debates nas universidades, fóruns e afins? As mulheres mães conseguem estar neste lugar construindo em conjunto com os demais segmentos dos movimentos sociais, ou não podem porque estão com criança pequena e “é difícil levar criança para esses lugares”? Então como podemos falar sobre uma sociedade melhor se não incluímos efetivamente a origem da vida e o início da criança na formação dela enquanto ser social também?

São inquietações que só agora sendo mulheres mães conscientes dos papéis sociais e de gênero (mesmo com os vários atravessamentos e complexidades que o contexto político e social nos impõe na atualidade),  estamos conseguindo com muito esforço e pé na porta pautar a inclusão da maternidade e infância em todos os espaços, mas nos ajudaria muito se todos os segmentos da sociedade também entendessem essa problemática igual e nos liberasse desse distanciamento social socialmente aceitável.

 

 

 Referências:

VIVAS, Esther. Mamãe desobediente: um olhar feminista sobre a matenidade. São Paulo. Editora Timos, 2021.

 

 

 Coletiva Pachamamá

 por Karla Maria

Coletiva  Pachamamá

por  Geysianne Felipe

Novembro Negro  por  Gisele  Camilo

Coletiva de Mães Pachamamá

Geysianne Felipe - Colunista convidada
Brasil

A Coletiva de Mães Pachamamá é uma organização sem fins lucrativos que tem foco na militancia materna, rede de apoio  no empoderamento materno e na infância livre. 

Geysianne Felipe e a mãe de Angêlo, mestra em comunicação pela UFPBA é atua como Ativista pelos direitos das mulheres e das crianças e articuladora na Coletiva Pachamamá.

 

Conheça a Coletiva Pachamamá em sua IG @coletiva_pachamama.

bottom of page